A abordagem científica da vida extraterrestre
Por Administrator
24 de dezembro de 2007
Luiz Augusto Leitão Silva
Entrevista Luiz Augusto Leitão Silva
FONTE: IHU online
O professor e astrônomo Luiz Augusto Leitão da Silva é docente na área de Exatas e Tecnológicas da Unisinos. É bacharel e mestre em Física pela UFRGS com ênfase em Astrofísica. Leitão é fundador e coordenador das oficinas de astronomia, do curso de Licenciatura em Física da Unisinos e divulgador científico por meio de jornais, rádio, TV e Internet. É o coordenador e fundador do Curso Vida Extraterrestre II: Ufologia, Ciência ou Pseudociência? Que aconteceu de 16 de março de 2006 a 27 de julho de 2006, na Unisinos.
IHU On-Line - É possível estudar cientificamente a ufologia? Como e a partir de quando a vida extraterrestre se transformou em tema de abordagem científica?
Luiz Augusto Silva - Sem dúvida pode-se proceder a uma abordagem científica das questões pertencentes ao domínio da ufologia. Talvez o ápice científico da ufologia tenha acontecido em meados dos anos 1960, quando a Universidade do Colorado recebeu generosas verbas governamentais para efetuar uma extensa pesquisa conduzida por cientistas civis, sem qualquer envolvimento de militares. Mas o que transparece desta abordagem é que a mania moderna de ver discos voadores e ETs desembarcando aqui na Terra é um fenômeno muito mais humano do que autenticamente extraterrestre, refletindo medos, angústias e esperanças de uma sociedade humana vulnerável às crises que ela mesma cria. Isso fica especialmente claro quando se estudam as primeiras grandes ondas de aparições de discos voadores, principalmente do pós-guerra, em que fica evidente uma paranóia coletiva insuflada pela guerra fria entre o sistema capitalista e "os vermelhos". Entretanto, há que se separar ufologia do estudo científico da possibilidade de existência de vida fora da Terra. Tal disciplina chama-se bioastronomia, ou ainda astrobiologia, e se trata de campo de investigação que começou a se consolidar nos últimos 50 anos. Aliás, diga-se de passagem, a Unisinos foi a primeira universidade brasileira a criar a disciplina optativa de graduação Introdução à Bioastronomia, que ocorre no segundo semestre de cada ano, e que mostra como se conduz uma autêntica pesquisa científica a respeito do problema da vida extraterrestre. Alunos de qualquer curso da Universidade podem requerer matrícula nesta cadeira, que não possui pré-requisitos.
IHU On-Line- Qual é o limite entre uma abordagem científica e outras abordagens do tema?
Luiz Augusto Silva - O limite é imposto pela própria metodologia de investigação científica. Quando passamos do concreto e do objetivo para visões místicas ou que envolvem experiências puramente pessoais, introspectivas e subjetivas (como, por exemplo, um "iniciado" que alega manter contatos exclusivos com seres alienígenas que não aparecem para mais ninguém), a ciência pára. Entramos, então, nos domínios da pseudociência, que é onde parece se situar atualmente a ufologia.
IHU On-Line - A que conclusões a ciência chegou com o estudo da vida em outros planetas?
Luiz Augusto Silva - Rigorosamente falando, só temos conhecimento da existência de vida aqui na Terra. Bem, pelo menos até o instante em que estas linhas estavam sendo escritas... É claro, a qualquer momento poderão surgir as evidências de vida extraterrestre que tanto aguardamos. Ignoramos solenemente os pormenores da provável história da vida em nossa galáxia, assim como as de outras galáxias. Entretanto, alguns limites já podem ser estabelecidos, permitindo isolar cenários prováveis, mas ainda não provados. Por exemplo: é consenso muito grande entre astrônomos e biólogos que provavelmente existam formas de vida elementares em muitos outros planetas, talvez até mesmo em outros lugares do próprio sistema solar, como na lua Europa de Júpiter, e talvez em Marte. Com relação à outra extremidade do espectro da vida, ou seja, as formas bastante complexas (genericamente referidas como metazoárias), as opiniões se dividem. Ainda não está claro se o aparecimento da inteligência é uma vantagem, do ponto de vista evolutivo. Assim, há os que apostam que, apesar do tamanho imenso do universo, talvez estejamos praticamente sozinhos. Outros, mais otimistas, sustentam que poderia haver, neste preciso momento, milhões de civilizações avançadas só em nossa galáxia, sem falar nas demais. Pessoalmente, compartilho da opinião segundo a qual provavelmente existem pouquíssimas civilizações na Via Láctea. Pode bem ser que, hoje, nós sejamos os únicos seres inteligentes autoconscientes, residindo em nosso sistema estelar doméstico. Mas ciência não é questão de acreditar ou não acreditar. É preciso provar e demonstrar. Daí a evidente necessidade de continuidade das pesquisas.
IHU On-Line - Quais são as evidências, do ponto de vista arqueológico?
Luiz Augusto Silva - Até o momento, nenhuma, apesar do clamor de autores visivelmente desonestos, que, no afã de enriquecerem vendendo livros de qualidade duvidosa, defendem, por exemplo, que as grandes pirâmides do Egito foram construídas com a ajuda de tecnologia alienígena avançada. O grande expoente nesta escola é o autor suíço Erich von Däniken[1], que já foi publicamente desmascarado há muitos anos, o que não o impediu de ficar rico, e de ainda vender seus livros hoje...
IHU On-Line - Quais são os aspectos mais polêmicos na abordagem do tema?
Luiz Augusto Silva - Na ufologia moderna, um dos tópicos mais confusos e polêmicos diz respeito às abduções, ou seja, raptos sistemáticos de pessoas, promovidos por ETs, que estariam interessados em nosso material genético, por alguma razão ainda desconhecida. Nos últimos anos, o tema tem conquistado vigor, mas nada existe de conclusivo a respeito, falando do ponto de vista rigorosamente científico.
IHU On-Line - Quais são os "estudos de caso" que resultam mais interessantes para a ciência?
Luiz Augusto Silva - Desde 1947, aconteceram muitos casos interessantes. Nenhum, entretanto, foi capaz de acrescentar evidências científicas tangíveis. Ficou famoso o caso Roswell, da possível queda de um disco voador nos Estados Unidos, cuja tripulação haveria sido capturada pelos militares. E também o caso do casal Betty e Barney Hill, "seqüestrados" por uma nave alienígena no início dos anos 1960, que rendeu muito material para estudos de psicologia. Mas até o momento, nenhuma ocorrência inerente à casuística ufológica conseguiu trazer à lume uma evidência inegável da presença de alienígenas na Terra. E, como dizia o falecido astrônomo norte-americano Carl Sagan, "fatos extraordinários requerem evidências extraordinárias". Até o momento, destarte os esforços de alguns ufólogos e investigadores que poderiam perfeitamente ser incluídos na ala das pessoas sérias, tais evidências extraordinárias ainda não apareceram. É de acrescentar ainda que as conclusões mais interessantes de qualquer estudo científico a respeito da ufologia surgem, não da análise de casos individuais, e sim dos grandes estudos estatísticos, que reúnem as características de milhares de ocorrências.
IHU On-Line - Como é tratada a vida extraterrestre no cinema de Hollywood?
Luiz Augusto Silva - Este vai ser o assunto específico do próximo curso de extensão universitária da série Vida Extraterrestre, que estamos desenvolvendo aqui na Unisinos, desde o semestre 2005/2. Vai se chamar Os Extraterrestres no Cinema, estando previsto para o semestre 2006/2. Vamos assistir a uma seleção dos grandes clássicos de ficção científica que abordaram a temática nos últimos 60 anos, na tentativa de traçar o perfil médio do "extraterrestre hollywoodiano", além de verificar como ele se enquadra (se é que se enquadra!) nos conhecimentos científicos atualmente disponíveis.
IHU On-Line - Há algum outro aspecto que não foi perguntado e que considere importante acrescentar?
Luiz Augusto Silva - Gostaria de frisar que a proposta do curso de extensão sobre ufologia é, antes de tudo, corajosa e ousada, além de inédita nos meios acadêmicos do País. Entretanto, isso não significa que estaremos pondo de lado todo o rigorismo da investigação científica. Aliás, o objetivo do curso é justamente este: ponderar os prós e os contras das diferentes interpretações, mas sem impor nada, ou seja, permitindo que cada participante escolha, após os elementos que forem apresentados e discutidos, que opinião prefere adotar.
Por Administrator
24 de dezembro de 2007
Luiz Augusto Leitão Silva
Entrevista Luiz Augusto Leitão Silva
FONTE: IHU online
O professor e astrônomo Luiz Augusto Leitão da Silva é docente na área de Exatas e Tecnológicas da Unisinos. É bacharel e mestre em Física pela UFRGS com ênfase em Astrofísica. Leitão é fundador e coordenador das oficinas de astronomia, do curso de Licenciatura em Física da Unisinos e divulgador científico por meio de jornais, rádio, TV e Internet. É o coordenador e fundador do Curso Vida Extraterrestre II: Ufologia, Ciência ou Pseudociência? Que aconteceu de 16 de março de 2006 a 27 de julho de 2006, na Unisinos.
IHU On-Line - É possível estudar cientificamente a ufologia? Como e a partir de quando a vida extraterrestre se transformou em tema de abordagem científica?
Luiz Augusto Silva - Sem dúvida pode-se proceder a uma abordagem científica das questões pertencentes ao domínio da ufologia. Talvez o ápice científico da ufologia tenha acontecido em meados dos anos 1960, quando a Universidade do Colorado recebeu generosas verbas governamentais para efetuar uma extensa pesquisa conduzida por cientistas civis, sem qualquer envolvimento de militares. Mas o que transparece desta abordagem é que a mania moderna de ver discos voadores e ETs desembarcando aqui na Terra é um fenômeno muito mais humano do que autenticamente extraterrestre, refletindo medos, angústias e esperanças de uma sociedade humana vulnerável às crises que ela mesma cria. Isso fica especialmente claro quando se estudam as primeiras grandes ondas de aparições de discos voadores, principalmente do pós-guerra, em que fica evidente uma paranóia coletiva insuflada pela guerra fria entre o sistema capitalista e "os vermelhos". Entretanto, há que se separar ufologia do estudo científico da possibilidade de existência de vida fora da Terra. Tal disciplina chama-se bioastronomia, ou ainda astrobiologia, e se trata de campo de investigação que começou a se consolidar nos últimos 50 anos. Aliás, diga-se de passagem, a Unisinos foi a primeira universidade brasileira a criar a disciplina optativa de graduação Introdução à Bioastronomia, que ocorre no segundo semestre de cada ano, e que mostra como se conduz uma autêntica pesquisa científica a respeito do problema da vida extraterrestre. Alunos de qualquer curso da Universidade podem requerer matrícula nesta cadeira, que não possui pré-requisitos.
IHU On-Line- Qual é o limite entre uma abordagem científica e outras abordagens do tema?
Luiz Augusto Silva - O limite é imposto pela própria metodologia de investigação científica. Quando passamos do concreto e do objetivo para visões místicas ou que envolvem experiências puramente pessoais, introspectivas e subjetivas (como, por exemplo, um "iniciado" que alega manter contatos exclusivos com seres alienígenas que não aparecem para mais ninguém), a ciência pára. Entramos, então, nos domínios da pseudociência, que é onde parece se situar atualmente a ufologia.
IHU On-Line - A que conclusões a ciência chegou com o estudo da vida em outros planetas?
Luiz Augusto Silva - Rigorosamente falando, só temos conhecimento da existência de vida aqui na Terra. Bem, pelo menos até o instante em que estas linhas estavam sendo escritas... É claro, a qualquer momento poderão surgir as evidências de vida extraterrestre que tanto aguardamos. Ignoramos solenemente os pormenores da provável história da vida em nossa galáxia, assim como as de outras galáxias. Entretanto, alguns limites já podem ser estabelecidos, permitindo isolar cenários prováveis, mas ainda não provados. Por exemplo: é consenso muito grande entre astrônomos e biólogos que provavelmente existam formas de vida elementares em muitos outros planetas, talvez até mesmo em outros lugares do próprio sistema solar, como na lua Europa de Júpiter, e talvez em Marte. Com relação à outra extremidade do espectro da vida, ou seja, as formas bastante complexas (genericamente referidas como metazoárias), as opiniões se dividem. Ainda não está claro se o aparecimento da inteligência é uma vantagem, do ponto de vista evolutivo. Assim, há os que apostam que, apesar do tamanho imenso do universo, talvez estejamos praticamente sozinhos. Outros, mais otimistas, sustentam que poderia haver, neste preciso momento, milhões de civilizações avançadas só em nossa galáxia, sem falar nas demais. Pessoalmente, compartilho da opinião segundo a qual provavelmente existem pouquíssimas civilizações na Via Láctea. Pode bem ser que, hoje, nós sejamos os únicos seres inteligentes autoconscientes, residindo em nosso sistema estelar doméstico. Mas ciência não é questão de acreditar ou não acreditar. É preciso provar e demonstrar. Daí a evidente necessidade de continuidade das pesquisas.
IHU On-Line - Quais são as evidências, do ponto de vista arqueológico?
Luiz Augusto Silva - Até o momento, nenhuma, apesar do clamor de autores visivelmente desonestos, que, no afã de enriquecerem vendendo livros de qualidade duvidosa, defendem, por exemplo, que as grandes pirâmides do Egito foram construídas com a ajuda de tecnologia alienígena avançada. O grande expoente nesta escola é o autor suíço Erich von Däniken[1], que já foi publicamente desmascarado há muitos anos, o que não o impediu de ficar rico, e de ainda vender seus livros hoje...
IHU On-Line - Quais são os aspectos mais polêmicos na abordagem do tema?
Luiz Augusto Silva - Na ufologia moderna, um dos tópicos mais confusos e polêmicos diz respeito às abduções, ou seja, raptos sistemáticos de pessoas, promovidos por ETs, que estariam interessados em nosso material genético, por alguma razão ainda desconhecida. Nos últimos anos, o tema tem conquistado vigor, mas nada existe de conclusivo a respeito, falando do ponto de vista rigorosamente científico.
IHU On-Line - Quais são os "estudos de caso" que resultam mais interessantes para a ciência?
Luiz Augusto Silva - Desde 1947, aconteceram muitos casos interessantes. Nenhum, entretanto, foi capaz de acrescentar evidências científicas tangíveis. Ficou famoso o caso Roswell, da possível queda de um disco voador nos Estados Unidos, cuja tripulação haveria sido capturada pelos militares. E também o caso do casal Betty e Barney Hill, "seqüestrados" por uma nave alienígena no início dos anos 1960, que rendeu muito material para estudos de psicologia. Mas até o momento, nenhuma ocorrência inerente à casuística ufológica conseguiu trazer à lume uma evidência inegável da presença de alienígenas na Terra. E, como dizia o falecido astrônomo norte-americano Carl Sagan, "fatos extraordinários requerem evidências extraordinárias". Até o momento, destarte os esforços de alguns ufólogos e investigadores que poderiam perfeitamente ser incluídos na ala das pessoas sérias, tais evidências extraordinárias ainda não apareceram. É de acrescentar ainda que as conclusões mais interessantes de qualquer estudo científico a respeito da ufologia surgem, não da análise de casos individuais, e sim dos grandes estudos estatísticos, que reúnem as características de milhares de ocorrências.
IHU On-Line - Como é tratada a vida extraterrestre no cinema de Hollywood?
Luiz Augusto Silva - Este vai ser o assunto específico do próximo curso de extensão universitária da série Vida Extraterrestre, que estamos desenvolvendo aqui na Unisinos, desde o semestre 2005/2. Vai se chamar Os Extraterrestres no Cinema, estando previsto para o semestre 2006/2. Vamos assistir a uma seleção dos grandes clássicos de ficção científica que abordaram a temática nos últimos 60 anos, na tentativa de traçar o perfil médio do "extraterrestre hollywoodiano", além de verificar como ele se enquadra (se é que se enquadra!) nos conhecimentos científicos atualmente disponíveis.
IHU On-Line - Há algum outro aspecto que não foi perguntado e que considere importante acrescentar?
Luiz Augusto Silva - Gostaria de frisar que a proposta do curso de extensão sobre ufologia é, antes de tudo, corajosa e ousada, além de inédita nos meios acadêmicos do País. Entretanto, isso não significa que estaremos pondo de lado todo o rigorismo da investigação científica. Aliás, o objetivo do curso é justamente este: ponderar os prós e os contras das diferentes interpretações, mas sem impor nada, ou seja, permitindo que cada participante escolha, após os elementos que forem apresentados e discutidos, que opinião prefere adotar.
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