quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Caso Varginha II

Uma reunião histórica

Na manhã de 04 de maio, os investigadores convidados começaram a chegar, e prontamente começaram as discussões. Naquela tarde é que foram tomadas as decisões mais importantes pertinentes às informações que seriam passadas para os representantes da imprensa de vários jornais, redes de televisão e rádios presentes, que aguardavam ansiosos por um pronunciamento oficial dos envolvidos nas pesquisas. Por volta das 15h00, em meio aos debates, Pacaccini adentrou o auditório solicitando-me que o acompanhasse. Fomos rapidamente de carro até a rodoviária de Varginha, pois uma das principais testemunhas militares, que já estava colaborando com as investigações, estava chegando à cidade. O militar já havia prestado depoimento antes, mas nada havia sido gravado.

Diante da relevância de suas informações, ele tinha sido convencido a prestar um novo depoimento, que desta vez seria gravado em segredo e às escondidas de seus superiores. Minha missão foi justamente gravar seu depoimento, ao ser entrevistado por Pacaccini. A gravação foi realizada num imóvel seguro e desocupado. Era um local seguro para tal ato, visto que a cidade estava em polvorosa e os oficiais da Escola de Sargentos das Armas (ESA), da qual saíram os soldados que capturaram as criaturas, estavam vigilantes para que nenhum subordinado da instituição revelasse a verdade. Assim, durante aproximadamente 45 minutos, assisti a uma história impressionante. Essa testemunha havia tido contato direto com uma das criaturas e havia participado do comboio militar que a retirou da cidade, já morta. Era a primeira vez na história da Ufologia Brasileira que tal fato ocorria.

Após deixarmos o militar novamente na rodoviária de Varginha, Pacaccini me levou até as proximidades do auditório, um anexo da residência de Ubirajara na época, onde estava sendo realizada a reunião, e foi buscar dona Luísa e suas filhas para também participarem. Ao retornar à reunião, tomei conhecimento de que muitos dos colegas ufólogos presentes eram contra a divulgação dos nomes dos militares envolvidos nas operações, conseguidos através de nossas testemunhas militares. Expus a Claudeir e a Ubirajara que dificilmente teríamos outra oportunidade como aquela e argumentei que, se não apresentássemos aos jornalistas algo realmente de importância sobre o caso, dificilmente eles retornariam numa outra ocasião, quanto tivéssemos novas revelações a fazer. Os dois pesquisadores tinham exatamente a mesma posição, e resolvemos ignorar as opiniões da maioria dos ufólogos presentes. Seriam omitidos apenas alguns pequenos detalhes que poderiam servir para identificar as testemunhas militares, colocando-as em risco.

Alguns minutos depois dos debates entre ufólogos, Ubirajara abriu o auditório aos repórteres e dona Luísa Helena e suas filhas foram apresentadas à imprensa, prestando um detalhado depoimento sobre a tentativa de suborno que sofreram. Logo em seguida, o pesquisador Claudeir Covo, co-editor de Ufo, leu um manifesto assinado por membros de 10 dos principais grupos de pesquisas do país, reafirmando a importância do caso, que conclamava outras possíveis testemunhas a procurarem os pesquisadores. Em seguida, Pacaccini divulgou os detalhes básicos do episódio e os nomes de alguns dos militares da ESA envolvidos nas operações. Na oportunidade, citou o tenente-coronel Olímpio Vanderlei Santos, que, segundo o depoimento que eu havia acabado de gravar, teria sido o comandante das operações. Referiu-se ainda ao capitão Ramirez e ao tenente Tibério, da Polícia do Exército, citando também o sargento Pedrosa, o cabo Vassalo e os soldados Cirilo e De Melo.


“Brincar de fazer Ufologia”


Era evidente para todos que estava se fazendo história na Ufologia Brasileira, e todos os presentes, de uma forma ou outra, faziam parte dela – mesmo aqueles que tinham votado contra a divulgação dos nomes dos militares, temendo alguma represália. Naquela mesma noite, os telejornais das emissoras locais colocaram no ar todo o fato, citando os nomes de alguns dos militares da ESA envolvidos nas operações de captura e transporte das criaturas. A partir daquele dia ficava claro que os principais pesquisadores do caso não estavam “brincando de fazer Ufologia”, como garantiu Ubirajara, momentos antes do final da reunião com os jornalistas.

Nessa declaração havia, é claro, um certo grau de decepção com aqueles companheiros que não estavam dispostos a assumir maiores responsabilidades e tinham sido contrários à divulgação dos nomes dos militares. A reação dos militares não tardou: eles marcaram para 08 de maio um pronunciamento do comando da Escola de Sargentos das Armas. Já sabíamos que tudo seria cabalmente negado por eles, mas não contávamos com a falta de habilidade demonstrada pelo comando da instituição para lidar com o problema. Foi lamentável. No dia marcado, o general-de-brigada Sérgio Pedro Coelho Lima, comandante da ESA, leu uma nota de poucas linhas, cujo teor rechaçava qualquer envolvimento de seu contingente ou mesmo de recursos da instituição com o caso. Não convenceu. Um dos jornalistas presentes, não satisfeito, perguntou ao general onde estavam os militares citados pelos ufólogos nos dias em que teriam ocorrido os fatos denunciados. Em resposta, o general simplesmente disse que “estavam trabalhando em prol do Exército e da Nação”.

Questionado se poderia provar isto, limitou-se a responder com outra questão: “provar para quem?” O mesmo jornalista insistiu, pois era visível a intenção dos militares de não esclarecer os fatos. O general Lima disse então que não tinha que provar nada a ninguém e se retirou.

Manobras de acobertamento

A partir daquela data ficava claro, pelo menos para parte da imprensa, que algo de grave estava sendo encoberto. O general Lima não voltaria a falar sobre o caso publicamente. Procurado dias depois pelo jornalista Goulart de Andrade para uma entrevista, segundo o próprio jornalista, Lima teria dito que recebera ordens de Brasília para não mais se pronunciar. Mas algo muito sinistro estaria sendo planejado dentro da ESA, para abafar a propagação do caso, uma manobra que se mostraria inócua, face ao volume de evidências acumuladas pelos ufólogos.

A partir do que havia sido divulgado na reunião de 04 de maio, também ficava evidente para o comando da ESA que, apesar das pressões que fazia para a manutenção do sigilo em torno do Caso Varginha, membros de seu contingente não estavam tão dispostos a manter o acobertamento quanto se imaginava. Na visão de tal comando, algo precisava ser feito. Assim, por um lado, era necessário identificar nossos informantes, aqueles que estavam colaborando com os investigadores civis, e, por outro, criar um tipo de mecanismo que exercesse ao mesmo tempo maior pressão sobre aqueles que tinham algo realmente a revelar e atenuar o impacto de uma declaração pública de um dos envolvidos diretamente com os fatos. A ESA estava trabalhando contra o relógio. A partir dessas necessidades, foi deflagrada no dia 10 de maio uma sindicância interna na instituição, através da portaria militar número 033-AJ-G2. O documento que a criou, ao qual tivemos acesso recentemente, através de um de nossos informantes militares, é assinado pelo próprio comandante da instituição, o general Lima.

Por incrível que possa parecer, as primeiras páginas dessa documentação, se forem examinadas sem maior cuidado, podem dar a entender que ela foi criada para que o comando da ESA conseguisse descobrir se seus membros e equipamentos tiveram ou não ligação com os fatos denunciados pelos ufólogos. Por exemplo, se transportaram ou não uma criatura extraterrestre para fora da cidade de Varginha. Mas será que o general Lima precisava desta sindicância para ter respostas desse tipo? É claro que não! Dois dias antes, em seu pronunciamento aos jornalistas, numa tentativa de convencê-los de que tudo não passava de uma fantasia, o general Lima já havia afirmado que nenhum membro do contingente da instituição ou mesmo quaisquer recursos ligados à ESA tinham tido qualquer forma de participação nos fatos que estavam sendo divulgados pela imprensa.

Algumas Instituições Envolvidas

no Caso Varginha: o Corpo de Bombeiros da cidade e a Escola de Sargentos das Armas (ESA), de onde partiram os homens que capturaram os seres. E os hospitais Regional do Sul de Minas e Humanitas, ambos de Varginha, para onde a segunda criatura foi levada.

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